Manuel Heitor

Manuel Heitor

Começo por agradecer à Universidade do Porto e ao seu Reitor, Sebastião Feyo de Azevedo, a organização deste debate e a mobilização do esforço para, em conjunto, pensarmos o futuro da Universidade e, portanto, também do ensino superior e da ciência e tecnologia em Portugal.

A análise tem mostrado que a complexidade do processo de inovação favorece as sociedades que se organizam em torno de uma cultura de diálogo associada a rotinas de avaliação e de crítica, em desfavor de cientistas ou inventores isolados, mesmo que sejam excecionais. A retórica da “excelência” em isolamento social está esgotada. Conduziu, nos últimos anos, à redução do investimento público e privado no ensino superior e em investigação e desenvolvimento, designadamente no sul da Europa, e acentuou a diversidade regional em função dos níveis de rendimento, em associação com a redução dos níveis de cultura científica [1].

É por esta razão que é essencial estimular hoje, mais do que nunca, rotinas permanentes de discussão e participação pública em todas as nossas iniciativas. Envolver as escolas, do pré-escolar ao ensino superior, com as instituições científicas, as empresas e a administração local e central no debate crítico e informado das nossas opções é hoje central para o debate sobre ensino superior e, portanto, sobre políticas de ciência, tecnologia e ensino superior.

Permitam-me que saúda os estudantes, os professores e investigadores, os funcionários, os antigos alunos, as empresas que colaboram com a Universidade, e os seus órgãos de gestão, e especialmente o Conselho Geral cujos membros externos quero destacar, pela sua generosidade e empenho no sucesso da reforma do Ensino Superior em Portugal ao longo da ultima década. Saúdo ainda e muito especialmente as instituições científicas da Universidade do Porto – Laboratórios Associados, Unidades de Investigação e outros Laboratórios e Institutos – eixos fundamentais do progresso na Universidade e garantes do seu futuro.

Saúdo também o Conselho de Curadores da Fundação Universidade do Porto pela maturidade com que soube conduzir a implementação do regime fundacional em Portugal e, gradualmente, impor o bom senso necessário à justa credibilização das fundações públicas de direito privado como efectivo regime autónomo das instituições de ensino superior em Portugal e na Europa.

O nosso objetivo coletivo deve orientar-se por promover a aprendizagem em sentido lato, inspiradora de um espírito crítico nas pessoas e nos grupos, que é essencial não apenas no quadro do trabalho de investigação e formação avançada, ou na organização das mesmas, mas também no estímulo a formas modernas de cidadania global.

Mas esses objectivos colectivos têm de passar necessariamente por uma agenda política comprometida na convergência efetiva com a Europa, através do estímulo à qualificação dos portugueses e ao emprego jovem, na valorização, captação e fixação dos recursos humanos qualificados, no emprego científico e na dinamização de comunidades de inovação integradas internacionalmente.

A evolução da Europa do conhecimento, que estou certo todos defendemos, requer um esforço colectivo crescente na produção e difusão do conhecimento, juntamente com o reforço de formas inclusivas de circulação de recursos humanos qualificados, que melhorem a partilha dos benefícios do investimento em educação e em ciência em toda a Europa. É nosso objetivo reforçar uma Europa mais inclusiva e com menores níveis de diversificação regional, designadamente em termos do investimento em conhecimento. Estes são hoje importantes desafios para a ciência e o ensino superior em Portugal.

Neste sentido, precisamos de garantir que os próximos anos são também com ciência mais aberta, inovação mais aberta e a participação pública crescente de todos no desígnio coletivo que representa fazer de Portugal e da Europa um projeto comum e inclusivo com mais conhecimento. Em particular as instituições de ensino superior devem assumir claramente, e como princípios fundamentais no desenvolvimento das suas atribuições, o acesso aberto às publicações e aos dados científicos resultantes de investigação financiada por fundos públicos, bem como a garantia da sua preservação, por forma a permitir a sua reutilização e o acesso continuado, observando os direitos da propriedade intelectual, segurança e proteção de dados.

Ampliar a difusão do conhecimento científico para a sociedade e as empresas, tornando-o acessível à população de forma adequada, reforçará o impacto social do ensino superior e da investigação, concorrerá para a sua valorização e reconhecimento e contribuirá para a inovação e modernização do tecido económico.

Interessa sobretudo considerar que num contexto de crescentes e contínuas mutações sociais, económicas e tecnológicas, a reivindicação para a promoção da inovação deve ser compreendida sobretudo em termos do processo de aprendizagem, e não apenas num inventário de matérias ou de prioridades, nem muito menos em rankings e métricas que ignoram o conteúdo do processo de aprender e criar. Por exemplo, mais importante que especificar setores de intervenção, interessa compreender como promover competências, sobretudo no que respeita à necessidade de conciliar o desenvolvimento de competências nucleares em matérias tradicionais, com competências em tecnologias de informação, com competências sociais e com o estimular da capacidade de aprender, apreender e empreender.

É neste contexto que o nível de qualificações dos portugueses e a intensidade de I&D são apontados como dois fatores críticos do desenvolvimento da sociedade e da competitividade da economia portuguesa que afetam o crescimento potencial do produto[2].

Primeiro, a meta para 2020 de 40% da população entre os 30-34 anos com um grau superior apresenta-se hoje bastante mais complexa de atingir do que quando da sua definição em 2010. Noto que a fração de diplomados com um grau superior na população entre os 30-34 anos cresceu de 11% em 2000, para 22% em 2008 e 31,5% em 2014 (últimos dados estatísticos oficiais). Mas Portugal divergiu na expectativa de atingir o objetivo para 2020 nos últimos anos essencialmente por dois fatores:

i) O decréscimo continuado nas taxas de diplomados com idades entre os 22 e os 30 anos;

ii) Os elevados níveis de emigração entre os jovens diplomados. Segundo dados estatísticos oficiais, 11,2% do total de portugueses emigrados são diplomados. Em 10 anos foram mais de 73 mil portugueses com formação superior que emigraram. São, no total, mais de 151 mil diplomados que deixaram de contribuir para a qualificação da economia nacional e que reduziram o peso da população com formação superior.

Assim, urge envolver um maior número de jovens no ensino superior e reforçar a atração de jovens diplomados para Portugal nos próximos anos. Para isso, estamos a implementar vários processos distintos, estimulando sobretudo a diversificação do ensino superior em Portugal através do reforço do ensino politécnico, que hoje requer ser mais valorizado pelas Universidades.

Segundo, a meta de convergência europeia em termos do nível de investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) é ainda mais complexa de atingir. Sabemos que nos últimos anos teve lugar um corte significativo do apoio público à atividade científica, traduzido diretamente, e em particular, no desinvestimento na formação avançada [3]. De forma também abrupta, o investimento privado acompanhou esse desincentivo e foi significativamente reduzido, com a despesa total anual em I&D a diminuir cerca de 530 milhões de euros entre 2010 e 2014 (ou seja, 19% do total), de acordo com as últimas estatísticas oficiais publicadas. Em consequência, aumentou a divergência de Portugal relativamente à Europa, com a despesa total anual em I&D a diminuir para 1,3% do produto, quando tinha atingido cerca de 1,6% em 2009 e 2010 [4].

Neste âmbito, estamos a aumentar o esforço público na formação avançada e no emprego científico, orientando a política científica com base numa estratégia de reforço de recursos humanos qualificados. Este processo exige, naturalmente, um esforço colectivo, incluindo agendas mobilizadoras de investigação e inovação, juntamente com a especialização da oferta científica e tecnológica assegurada pelas universidades, institutos politécnicos e instituições científicas e tecnológicas.

Alargar a escala e a intensidade do financiamento para I&D e para o ensino superior, assim como continuar a aumentar a relevância científica internacional das atividades de I&D e a colaboração com o tecido produtivo, social e cultural, representam desafios críticos para os próximos anos que requerem, certamente, densificar a atividade científica no território, mas também exigem o acesso a fontes diversificadas de financiamento (designadamente a fundos comunitários estruturais e fundos privados). Este é, porventura, o maior desafio que se coloca hoje às comunidades académica e científica e que exigem a co-responsabilização dessas comunidades e das instituições científicas e académicas no desenvolvimento de Portugal. Exige certamente formas inovadoras de organização do sistema de C&T e de ensino superior e, portanto, requer uma análise detalhada e sistemática das condições potenciais associadas a oportunidades de financiamento futuro.

Debater as metas referidas anteriormente exige compreender novos desafios para Portugal e para os portugueses, e, portanto, também para a Universidade portuguesa, em geral, e a do Porto, em particular. As ameaças e as oportunidades estão aí e não esperam. Urge refletir sobre eles e contribuir para a sua superação. Ao fazê-lo estamos a tratar dos desafios que se colocam hoje ao futuro de toda a comunidade académica e científica, ao ensino superior em Portugal e aos portugueses.

Permitam-me assim que, no contexto das metas referidas, aprofunde a discussão sobre seis grandes desafios, que me parecem também determinantes para a Universidade do Porto. Refiro-me a questões críticas para o desenvolvimento e organização do ensino superior, as quais penso ser essencial serem consideradas nos tempos que emergem da crescente incerteza nos mercados, mas também no desenvolvimento científico e tecnológico.

Primeiro, o desafio da aprendizagem com base na prática sistemática de investigação científica e o esforço de contribuir diariamente para modernizar o nosso ensino superior, mudando gradualmente estruturas orgânicas geradas noutras épocas e noutros contextos, modernizando a oferta curricular e os processos pedagógicos, assim como revendo mecanismos de formação das decisões antagónicos com os da criação científica. Quando poderemos assegurar que todos os estudantes que entram no ensino superior, sem exceção, são efetivamente inseridos em ambientes de investigação e que aprendem a perceber e a questionar, compreendendo que a incerteza se ataca com mais conhecimento e através da participação efetiva em equipas de investigação?

Refiro-me também ao desafio que continua particularmente atual da transição de um sistema de ensino baseado na ideia da transmissão de conhecimentos para um sistema baseado no desenvolvimento de competências, que é uma questão crítica central, em Portugal e em toda a Europa, dado os altíssimos valores de abandono e insucesso. Refiro-me sobretudo a:

  • Envolver os estudantes de ensino superior desde os primeiros anos (1.º e 2.º ciclos) em atividades de experimentação, no trabalho de projeto, e na prática orientada de atividades de investigação;
  • Alterar os padrões de ensino e aprendizagem para um trabalho mais ativo dos estudantes.

Em particular sobre o reforço da atividade científica e valorizando a integração do conhecimento científico no ensino superior, interessa garantir a mobilização generalizada de todos os docentes para a prática sistemática de atividades de I&D. Este processo deve ser conjugado com a necessidade crescente de modernizar práticas de ensino/aprendizagem que garantam rotinas sistemáticas de I&D envolvendo os estudantes em todos os níveis de formação superior, inicial, graduação e pós-graduação.

Segundo, o desafio da diversificação da oferta de ensino superior, naturalmente correspondendo às expetativas de uma sociedade também mais diversificada. Em 2016 vai concluir-se o primeiro ciclo completo de acreditação dos cursos de ensino superior em Portugal, pelo que será necessário preparar um sistema de avaliação institucional e, em simultâneo, um novo ciclo de acreditação de cursos.

É neste contexto que, tendo por base a experiência de avaliação e de acreditação dos últimos anos em Portugal e os desafios semelhantes em toda a Europa, a avaliação institucional é um instrumento crítico para o reforço do ensino superior em Portugal e das suas instituições, devendo ser orientada para aumentar e estimular a diversificação e a diferenciação das instituições, designadamente entre universidades e politécnicos [5], assim como para promover o reforço da atividade de I&D de forma generalizada a todo o ensino superior, consagrando simultaneamente diferentes tipologias de I&D consoante o tipo de instituições.

O ensino universitário deve orientar-se para a oferta de formações científicas de espectro largo integrando áreas de conhecimento diversas, incluindo ciências sociais e humanidades, ciências exatas e engenharia, ciências naturais, ciências da vida e medicina, bem como as suas interações temáticas e multidisciplinares e agregando esforços e competências de unidades de ensino e investigação pós-graduado de base científica.

Por outro lado, o ensino universitário deve contribuir para que o ensino politécnico cresça e se diferencie e valorize em Portugal, especialmente através de formações vocacionais e em formações técnicas especializadas, orientadas profissionalmente, aliando esforços e competências de investigadores e especialistas em I&D aplicada e, sobretudo, baseada na experiência (i.e., “practice based research”), com ênfase em temas de forte apropriação regional.

Terceiro, o desafio da empregabilidade dos nossos graduados e da ligação externa efetiva à sociedade e à economia, designadamente através de rotinas de ligação sistemática e institucional aos setores produtivo, social e cultural, incluindo a adequação da oferta formativa.

Refiro-me ao desafio de melhorar a orientação escolar dos estudantes com vista a uma maior empregabilidade dos jovens graduados, a qual penso que só pode ser encarada em estreita associação com a capacidade única que a nossa comunidade académica apresenta para fazer face à oportunidade, também ela única, de relacionar a investigação e o ensino numa gama diversificada de áreas.

Refiro-me também ao esforço para melhor adequar a oferta formativa aos tempos de crescente incerteza em que vivemos. Refiro-me especialmente à discussão já em curso há alguns anos, mas sempre adiada, sobre a necessidade de alargar o âmbito das formações iniciais e de facilitar a especialização da formação pós-graduada.

Refiro-me ainda, em particular, à oportunidade que todos esperamos para que as instituições de ensino superior, em estreita colaboração com o setor produtivo, social ou cultural, assegurem novas formas colaborativas com o setor privado e as empresas em particular e que se estabeleçam como efetivos laboratórios colaborativos potenciadores de emprego qualificado e de criação de valor.

Neste contexto, o desenvolvimento e promoção de agendas e programas de investigação e inovação mobilizadores, devidamente concertados entre as universidades, os politécnicos e o tecido produtivo, e com as empresas em particular, vem consagrar um efetivo «Compromisso com o Conhecimento e a Ciência» que pretendemos vir a estimular o emprego científico.

As agendas deverão resultar de um esforço colaborativo entre investigadores dos setores público e privado, adotando uma matriz que cruze prioridades de especialização com tecnologias e conhecimento científico de natureza transversal e definindo um referencial para a alocação do financiamento de políticas públicas para a ciência e inovação. Pretende-se mobilizar os setores produtivo, social e cultural, de modo a facilitar e densificar a qualificação da população ao nível do território, estimulando o emprego qualificado e convergindo para a média europeia em termos do esforço de investimento público e privado em I&D.

Importa reforçar instituições intermediárias e de transferência de conhecimento, incluindo centros tecnológicos e de engenharia, ou outro tipo de laboratórios colaborativos, com o intuito de incentivar a cooperação entre instituições científicas e de ensino superior com o tecido económico e as empresas, facilitando a criação seletiva de centros de emprego qualificado geradores de valor económico e mobilizadores da capacidade de produção industrial.

Noto que o exemplo da Universidade do Porto neste âmbito deve ser claramente reconhecido a nível nacional e internacional, designadamente através do impacto incontestável de muitas das suas instituições cientificas e laboratórios associados. Em particular, a experiência do INESC TEC, do INEGI, e do I3S, entre outras, assim como a colaboração da Associação Fraunhofer-Portugal e do desenvolvimento da UPTEC, são exemplos que devem ser promovidos, apoiados e alargados a nível nacional.

Quarto, o desafio, sempre contínuo, da internacionalização, também do corpo docente. A evolução gradual da última década de formas de colaboração internacional baseadas em ligações pessoais, para colaborações institucionais é um desafio e um esforço que tem de prosseguir em Portugal. Garantir graus e diplomas duplos, laboratórios conjuntos e agendas colaborativas com grandes instituições na Europa e no mundo é certamente um desafio que vai perdurar nas próximas décadas e que só pode ser vencido com a atração e fixação de docentes e investigadores a nível internacional, juntamente com acordos institucionais de âmbito internacional.

A análise da experiência de Portugal e da Universidade do Porto em grandes parcerias internacionais[6] de ensino superior e ciência e tecnologia mostra que essas parcerias podem atuar como agentes de mudança, mas requerem abranger e implementar atividades que são fundamentalmente diferentes do papel tradicional das instituições de ensino superior, envolvendo, na maioria das vezes, capacitação e várias formas de apropriação social e económica do conhecimento. Mas a análise mostra também que o sucesso dessas parcerias exige a compreensão da natureza da cooperação internacional para além da exportação/importação de “serviços académicos” nas instituições envolvidas. Além disso, quebram claramente os limites tradicionais de “sistemas nacionais de inovação” e trazem novos desafios em termos da integridade institucional das instituições de ensino superior, que urge preservar e promover.

Adicionalmente, as parcerias internacionais são hoje críticas para o reforço do emprego científico e para a atração e fixação de investigadores de reconhecimento internacional, que é claramente um dos desafios mais críticos para Portugal e para as nossas instituições de ensino superior. Enfrentá-lo requer estratégias institucionais que privilegiem o mérito e o rejuvenescimento contínuo e sistemático do corpo docente de investigação a nível internacional.

Quinto, a renovação e modernização contínua e sistemática das instalações das instituições científicas e de ensino superior, a qual representa um desafio crescente no actual quadro de financiamento público, incluindo a utilização potencial de fundos comunitários. Exige, portante, um “olhar” diferente dessas mesmas instalações, designadamente em termos do seu potencial único para a dinamização de zonas urbanas, a revitalização das cidades e do território de forma geral, juntamente com o potencial para dinamizar a formação e a atividade de investigação num contexto de “ciência aberta”.

A análise comparada a nível internacional exige compreender o potencial do desenvolvimento de “espaços de aprendizagem” [7] em torno dos campi de ensino superior, assim como tendo por base instalações científicas e académicas e do seu papel fundamental para o desenvolvimento de Portugal, promovendo o território em geral. Exige uma análise do potencial desses “espaços de aprendizagem” em contextos urbanos e rurais, em particular a associação com as necessidades e desafios das universidades e politécnicos, de forma a estimular e fortalecer a sua relação com a sociedade e a economia através de espaços abertos de aprendizagem colaborativa, estimulando o conhecimento e a inovação. Paradoxalmente, o “lugar” é mais importante do que nunca e essa análise terá de considerar a dimensão espacial de conhecimento de forma a garantir e reforçar novas formas de “urbanismo do conhecimento” em todo o país. O papel da Universidade do Porto na revitalização da cidade do Porto poderia vir a constituir-se como um exemplo de referência internacional.

De facto, a análise comparada a nível internacional mostra ainda que os campi de ensino superior estão a evoluir de “lugares de estudo” para “lugares de aprendizagem e interação com o conhecimento”, constituindo-se crescentemente como “partes” relevantes e essenciais das cidades e do território [8]. Além disso, a tomada de decisão sobre a gestão dos campi de ensino superior está a tornar-se mais complexa para todas as partes envolvidas, representado desafios crescentes para a gestão das instituições de ensino superior.

A par das oportunidades que se colocam hoje aos campi de ensino superior num contexto mais amplo e sistémico, há ameaças. As instalações estão sempre a envelhecer, tanto técnica como funcionalmente e exigem reinvestimento contínuo, enquanto muitos desenvolvimentos causam mais incerteza na procura desses espaços, tornando a sua gestão flexível uma necessidade crescente. Exigem, assim, novos mecanismos de financiamento, gestão e manutenção dos espaços construídos, estimulando a abertura efectiva dos campi a cidadãos e a vários actores sociais e económicos, garantindo a sua melhor integração no território e na sociedade, juntamente com a melhoria efetiva das instalações académicas e científicas.

Por fim, o desafio da cultura científica e dos coletivos internos ao próprio desenvolvimento institucional do ensino superior e, naturalmente, à Universidade do Porto. Refiro-me ao esforço continuado para estimular a cultura científica no interior da comunidade académica, evitando processos de gestão e avaliação baseados meramente em simples indicadores e «folhas de cálculo», e vencendo o individualismo e o irracional de muitos dos incentivos que hoje estimulam, à escala global, esse individualismo na atividade científica e académica.

Construir coletivos, facilitadores da co-criação de novo conhecimento, estimulando a criatividade e a produção desses novos conhecimentos, juntamente com a sua difusão, é o desafio que todos agora esperamos das instituições de ensino superior e dos seus docentes para os próximos anos.

Refiro-me ainda à necessidade de reduzir a burocratização crescente dos ambientes escolares, académicos e científicos em Portugal e no mundo, incluindo o combate ao uso irresponsável de métricas para fins de avaliação, o qual deve assumir um papel central na defesa da cultura científica nas nossas instituições de ensino e de investigação, a todos os níveis. As sucessivas declarações internacionais lançadas e assinadas por grandes instituições científicas nos últimos anos, da Declaração de São Francisco de 2012, ao Manifesto de Leiden de 2015, são claras quanto à necessidade de evitar o uso de indicadores, como os fatores de impacto e outros, em processos de recrutamento e de progressão nas carreiras académicas e científicas. Este objetivo deve ser adotado pelas instituições portuguesas, também de modo a reconhecer claramente a relação e envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem.

Estes desafios exigem convicções políticas firmes.

Permitam-me que apele ao debate da Universidade do Porto e, de uma forma geral, das instituições de ensino superior, sobre o desígnio de tornar o conhecimento o nosso compromisso com o futuro.

Neste contexto, a análise dos seis desafios referidos acima exige que se concretizem as oportunidades para o desenvolvimento da capacidade científica das nossas instituições, designadamente através da capacitação do seus corpos docentes e de investigação. Refiro-me sobretudo a dois aspectos críticos, que são também particularmente relevantes para a Universidade do Porto, designadamente no contexto do regime fundacional adoptado:

  1. Mobilizar todos os docentes do ensino superior para a adopção de praticas efectivas de “ensino baseado na investigação” e uma efectiva articulação entre as actividade de ensino e de investigação. Noto que apenas cerca de metade dos actuais docentes de ensino superior público em Portugal estão registados em unidades de I&D avaliadas pela FCT, naturalmente com uma grande diversidade de situações entre o ensino universitário e o ensino politécnico (ainda com um potencial particularmente grande de crescimento), com valores de cerca de 56% na Universidade do Porto em termos de pessoas e 65% em valores de “equivalentes a tempo integral” (i.e., ETI); e com valores médio de cobertura de cerca 75% e valores máximos de cerca de 90% em alguns unidades orgânicas;
  2. Consagrar o estímulo ao emprego cientifico e ao rejuvenescimento e reforço dos quadros de pessoal docente e de investigação das nossas instituições como uma das prioridades para os próximos anos. Neste contexto, noto que este processo começou por ser facilitado através da Lei do Orçamento de Estado de 2016, que veio desbloquear a contratação de docentes e investigadores pelas instituições de ensino superior, facilitando o reforço e o rejuvenescimento dos quadros de pessoal. Mas noto também que a estrutura do corpo docente das instituições de ensino superior ilustra bem a necessidade desse reforço, o qual só será efectivamente concretizado com a efectiva co-responsabilização das instituições pela abertura de lugares de quadro, juntamente com o rejuvenescimento dos quadros de pessoal. Por exemplo, a Universidade do Porto ainda só tinha registado em 2014/15 cerca de 43% de professores associados e catedráticos no total dos docentes de carreira, estando o valor médio nacional em cerca de apenas 33% (no âmbito do REBIDES, DGEEC), ou seja, muito aquém dos valores de 50 a 70% referidos no quadro legal em vigor.

Em termos da ação da Universidade do Porto no contexto do ensino superior em Portugal, quero assim referir-me à necessidade urgente de continuar a participar activamente no reforço da abertura da base social do ensino superior, juntamente com a adopção de formas activas e modernas de ensino-aprendizagem, assim como de estímulo ao emprego científico e da dignificação contratual das actividades docentes e de investigação. Estas acções têm de ser naturalmente consideradas juntamente com os desafios que hoje se colocam ao desenvolvimento de novas formas colaborativas entre os setores público e privado, à autonomia efetiva das instituições científicas e de ensino superior e à sua co-responsabilização reforçada pelo desenvolvimento académico científico, social, cultural e económico [9].

Como disse José Mariano Gago quando da celebração do primeiro centenário da Universidade do Porto, em 2011, esta “Universidade criou-se num momento fundamental de rupturas políticas e sociais em Portugal e desde então fez uma ascensão difícil e conquistou o lugar que ocupa. […]. Os novos desafios, as ameaças, as oportunidades estão aí – e não esperam. Urge reflectir sobre eles e contribuir para a sua superação”.

É neste âmbito que quero reconhecer o papel ímpar da Universidade do Porto ao ter adoptado o regime fundacional e consagrado os princípios de efectiva autonomia do ensino superior ao longo dos primeiros cinco anos de instalação desse regime. Mas apelo à Universidade do Porto e aos seus órgãos de governo e gestão para considerarem a consolidação do regime fundacional nos termos dos dois aspectos críticos referidos acima e, sobretudo, de modo a estimular nos próximos anos o emprego científico e o rejuvenescimento e reforço dos quadros de pessoal docente e de investigação da Universidade do Porto.

Apelo também aos órgãos de governo e gestão da Universidade para garantirem a consolidação de uma estratégia que garanta o reforço da Universidade do Porto como uma grande universidade de investigação no espaço Europeu, adoptando estratégias claras de alargamento da actividade de investigação, juntamente com formas activas de ensino-aprendizagem e a pratica sistemática de proximidade entre estudantes, investigadores, docentes e a sociedade em geral. Exige a consolidação de relações institucionais e contratuais entre as varias unidades orgânicas, melhor articulando ensino e investigação e garantido os arranjos colaborativos necessários para reforçar a ligação ao tecido produtivo, social ou cultural em Portugal e no mundo.

Neste âmbito, deve ser reconhecido o trabalho, certamente de relevância internacional, de articulação e consolidação ímpar em Portugal entre unidades orgânicas de investigação e ensino da Universidade do Porto em muitas das áreas de engenharia e tecnologia, o qual urge alargar a todas as áreas do conhecimento, incluindo necessariamente as áreas biomédicas e de ensino e investigação clínica. Exige novas relações contratuais e institucionais com os hospitais e os profissionais de saúde, a alargar certamente a outras áreas do conhecimento, das ciências sociais e económicas, ás ciências exactas e ás humanidades.

O posicionamento da Universidade do Porto em Portugal e no mundo exige a valorização das oportunidades que o regime fundacional oferece á actividade universitária, dignificando e reforçando a atracção de recursos humanos qualificados e estimulando a ligação à sociedade, à economia e à cultura em todas as áreas do conhecimento.

Foi neste contexto que do ponto de vista da acção política, concluímos no passado mês de Agosto dois processos distintos, cuja concretização só será possível com a colaboração das instituições de ensino superior, no âmbito das quais a Universidade do Porto desempenha naturalmente um papel de grande relevância:

  • Primeiro, a definição de um novo regime legal e programa de estímulo ao emprego científico, após um processo de negociação sindical, de modo a incentivar a contratação responsável de investigadores doutorados em Portugal e criar novas condições para atrair recursos humanos qualificados. Urge dignificar na sociedade portuguesa o emprego académico e científico e o acesso e desenvolvimento de carreiras académicas e científicas, evitando a precariedade do trabalho qualificado. É agora critico criar as condições institucionais e financeiras para a contratação de investigadores doutorados e fixar as condições de dignificação do emprego científico nos termos da avaliação de todas as unidades e laboratórios de I&D a ser lançados e implementados em 2017.
  • Segundo, o estabelecimento de condições contratuais com as instituições de ensino superior, garantindo a necessária estabilidade no financiamento ao longo da legislatura. Neste sentido, assinámos um contrato de legislatura com as instituições universitárias e politécnicas no sentido de uma efetiva valorização e dignificação do ensino superior em Portugal.

Para tanto, importa promover mais formação e, certamente, mais capacidade científica, a contextualizar na sua articulação natural com os domínios da educação, da cultura e da economia.

Acreditar na Universidade do Porto é acreditar em uma cultura de diálogo associada a rotinas de avaliação e de crítica como o único processo comprometido na convergência efetiva com a Europa do conhecimento.

[1] M. Heitor (2015), “Science Policy for and increasingly diverging Europe”, Journal of Research Policy and Evaluation, 2.

[2] CE( 2016). Relatório relativo a Portugal 2016, que inclui uma apreciação aprofundada sobre a prevenção, e a correção de desequilíbrios macroeconómicos. SWD (2016) 90 final: pág. 9, 2º parágrafo, http://ec.europa.eu/europe2020/pdf/csr2016/cr2016_portugal_pt.pdf [Acedido em abril de 2016].

[3] João M. Santos, Hugo Horta, Manuel Heitor (2016), “Too many PhDs? An invalid argument for countries developing their scientific and academic systems: the case of Portugal, Technological Forecasting and Social Change.

[4] M Heitor, H. Horta and J. Mendonça (2014), “Developing human capital and research capacity: science policies promoting brain gain”, Technological Forecasting and Social Change, 82, pp. 6-22.

[5] S. Hasanefendic, M. Heitor and H. Horta (2016), “Training students for new jobs: the role of technical and vocational higher education and implications for science policy in Portugal”, Technological Forecasting and Social Change.

[6] M. Heitor (2015), “How far university global partnerships may facilitate a new era of international affairs and foster political and economic relations?”, Technological Forecasting and Social Change, 95, pp. 276-293.

[7] ver, por exemplo, http://www.ncef.org/content/learning-landscapes-higher-education-final-report

[8] ver, por exemplo, www.corporationsandcities.org ; Heijer (2008), “Managing the University campus in an urban perpspective: thery, challenges and lessons from the dutch experience”

[9] M. Heitor and H. Horta (2016), “Reforming higher education in times of uncertainty: are illities important?”, Technological Forecasting and Social Change.

I would like to start by thanking the University of Porto and Rector Sebastião Feyo de Azevedo for organising this debate and mobilising efforts that allow us to come together and think about the future of the University and, consequently, the future of higher education, science and technology in Portugal.

Analyses have shown that the complexity of the innovation process favours societies that organise themselves around a culture of dialogue, which is linked with routines of critical assessment, and disfavours isolated scientists and innovators, no matter how exceptional they are. The rhetoric of attaining “excellence” in social isolation has been exhausted. This discourse has led to the reduction of public and private investment in higher education, research and development, especially in Southern Europe, where differences in regional performance were exacerbated by a decrease in levels of scientific culture [1].

The creation of debate and public participation routines is, therefore, more important than ever in all our endeavours. Involving schools (from pre-primary to higher education), scientific institutions, companies and local and central governments in the critical and informed discussion of our options is also fundamental to current debates on higher education, science and technology policies.

I would now like to express my appreciation for all students, teachers, researchers, officials, alumni and companies who cooperate with the University and its management, and especially the General Board and its external members, for their generosity and commitment to the success of higher education reform in Portugal over the last decade. I also extend my appreciation to all scientific institutions of the University of Porto – associated laboratories, research units and other laboratories and institutes – which play a key part in the progress and future of the University.

I would further like thank the Board of Trustees of the University of Porto Foundation for the wisdom with which it has established the Foundational Regime in Portugal, gradually imposing the good sense required to lend foundations governed by private law the proper credibility needed to serve as the effective autonomous regime of higher education institutions in Portugal and Europe.

Our collective goal should be to promote learning, in the broad sense, and to inspire people and communities to think critically, which is essential not only for research and advanced training, and their organisation, but also for inspiring modern forms of global citizenship.

This collective goal, however, must be part of a political agenda committed to converge with Europe’s standards, to promote the qualification of Portuguese workers and youth employment, to value, acquire and maintain qualified human resources, to increase scientific employment and to revitalise internationally-integrated innovation communities.

The evolution of the “Europe of Knowledge”, which I am confident we all support, requires collective and growing efforts towards generating and disseminating knowledge, reinforcing inclusive policies that favour the mobility of qualified human resources and improving the sharing of the benefits resulting from investments in education and science across Europe. Our goal is to facilitate a more inclusive Europe with fewer regional discrepancies regarding investment in knowledge. These challenges are crucial for science and higher education in Portugal today.

To fulfil the common project of making Portugal and Europe more knowledgeable and inclusive, we need to ensure an open approach to science and innovation and growing public participation over the coming years. Higher education institutions in particular should develop their competences, create open access to publications and scientific data resulting from publicly-funded research and preserve such data to allow for its continuous use and access, while observingintellectual property rights and data protection and security requirements.

Expanding the spread of scientific knowledge to society and companies in a sustainable manner will increase the social impact of higher education and research, which, in turn, will contribute to the innovation and modernisation of the economic fabric and to the appreciation and acknowledgement of scientific knowledge itself.

It is also worth noting that, within a context of continuous and growing social, economic and technological changes, the quest for innovation should be seen as a learning process and not merely as an inventory of subject areas or priorities. Much less should innovation be understood merely through the lens of rankings and metrics that fail to recognise the contents of the learning and creation processes. In other words, defining specific areas of intervention is less important than understanding how to improve skills, particularly how to reconcile the development of core skills in traditional subjects with the development of information technology skills, social skills and learning, grasping and undertaking capacities.

Thus, the qualification level of Portuguese workers and the intensity of R&D, which affect potential output growth, were identified as two critical factors for the social development and competitiveness of the Portuguese economy. [2]

Firstly, the target set for 2020, in which 40% of the population aged between 30-34 would hold a postgraduate degree, has proven much more difficult to achieve today than when it was set in 2010. The population aged between 30-34 with a postgraduate degree has increased from 11%, in 2000, to 22%, in 2008, and 31.5% in 2014 (per the most recent official statistical data). However, in recent years, Portugal has failed to meet expectations for the 2020 goals, for two primary reasons:

i) a continuous drop in the rate of graduates aged between 22-30;

ii) high levels of emigration among young graduates. According to official statistical data, 11.2% of all Portuguese emigrants are graduates. In 10 years, more than 73,000Portuguese graduates have emigrated. In total, more than 151,000 graduates ceased to contribute to the qualification of the national economy, reducing the proportion of the population with higher education.

It is therefore urgent that more young people complete their college education and more young graduates are attracted back to Portugal in the coming years. To that end, we are implementing several projects, mainly with the aim of increasing the diversification of higher education in Portugal and reinforcing polytechnic education, which should be further promoted by universities.

Secondly, the European target of harmonising the level of investment in research and development (R&D) is even harder to achieve. We know that scientific activities have suffered significant cuts in public funding in recent years, which directly resulted in a divestment in advanced training [3]. In a similarly abrupt way, private investment also followed this trend, with total annual spending in R&D decreasing by about 530 million euros between 2010 and 2014 (i.e., 19%), according to the most recent published official statistics. As a result, the discrepancy between Portugal and Europe has increased, with the total annual spending in R&D decreasing to 1.3%, after achieving 1.6% in 2009 and 2010 [4].

In view of this, we are increasing public investment in advanced training and scientific employment, and guiding science policies towards the reinforcement of qualified human resources. This process requires a collective effort, with agendas that promote research and innovation and a specialised scientific and technological offer in universities, polytechnics, scientific and technological institutions.

Expanding and increasing funding for R&D in higher education, as well as continuing to increase the relevance of international scientific R&D activities and cooperation with productive, social and cultural sectors, are some of the critical challenges we must face in the upcoming years. These challenges require densification of scientific activity in Portugal and access to diverse sources of financing, such as community structural funds and private funds. This is, perhaps, he greatest challenge facing academic and scientific communities today, and Portugal’s development requires a shared responsibility of both communities and associated institutions. This certainly requires new ways of organising the C&T and higher education systems which, in turn, requires a thorough and systematic review of the potential conditions of future financing opportunities.

To debate the targets mentioned above, we need to understand the challenges facing Portugal, the Portuguese population and, consequently, Portuguese universities in general and the University of Porto in particular. Both threats and opportunities exist, and they do not wait. We must reflect upon them and act to overcome them. In doing so, we are addressing the challenges faced by the academic and scientific communities, by higher education in Portugal and by all Portuguese citizens today.

Allow me, therefore, to further discuss the six big challenges to achieving the aforementioned targets, which appear to be defining for the University of Porto as well. I am referring to issues that are critical for the development and organisation of the higher education system, which must be considered in a context of growing uncertainty in the markets on the one hand, and increasing scientific and technological developments on the other hand.

Firstly, there is the challenge of establishing a learning system based on systematic scientific research while, at the same time, contributing to the modernisation of our higher education system. This can be achieved by gradually changing the organisational structures that were created at different times and within a different context, by updating the curricular offer and teaching processes and by reviewing decision-making mechanisms that collide with the process of scientific creation. When will we be able to ensure that all students enrolled in higher education, without exception, are integrated into a research environment and are able to interpret, question and understand that uncertainty is fought with more knowledge and with active participation in research teams?

I am also referring to the particularly contemporary challenge of transitioning from an educational system based on the concept of knowledge transfer to a system based on the development of skills, which is a critical core issue for Portugal and Europe, considering the extremely high rates of school dropouts and underachievement. I am referring, mostly, to:

  • Involving higher education students in projects, experimentation activities and guided research activities right from the start (1st and 2nd cycles);
  • Changing the teaching and learning methods towards encouraging more active student participation.

With regards to increasing scientific activity and emphasising the integration of scientific knowledge in higher education, it is important to ensure that the majority of teachers adopt a systematic practice of R&D activities. This project should be in line with meeting the growing need to adapt education/learning practices to create systematic R&D routines that involve higher education students from the 1st cycle to post-graduation.

Secondly, there is the challenge of diversifying the offer in higher education to address the expectations of a more diverse society. In 2016, the first complete cycle of accreditation of higher education courses will be completed in Portugal, which will require the creation of a new cycle of course accreditation along with an institutional assessment system.

Based on the assessment and accreditation experience in recent years and in similar challenges across Europe, institutional assessment is critical for the improvement of higher education and higher education institutions in Portugal. Institutional assessment should aim at increasing and promoting diversification and differentiation among institutions, namely among universities and polytechnics[5], as well as reinforcing R&D activities in general across higher education, taking the different types of R&D and institutions into account.

Universities should focus on offering broad scientific training while integrating different areas of knowledge, with the respective thematic and multidisciplinary interactions, such as social sciences, humanities, exact sciences, engineering, natural sciences, life sciences and medical sciences, as well as pool efforts and competences from science-based post-graduation teaching and research units.

Universities should also contribute to the development, differentiation and appreciation of polytechnic education in Portugal, especially through specialised and professionally-oriented vocational and technical training, y combining the efforts and skills of researchers and specialists in applied R&D, and with special focus on practice-based research and on topics with strong regional applications.

Thirdly, there is the challenge of employing our graduates and ensuring their external connection with society and economy, namely through systematic and institutional programmes connecting the university with the productive, social and cultural sectors, and through an adequate training offer.

I am referring to the challenge of guiding students along their educational careers to achieve greater employability for young graduates, which I believe can only be considered in close connection with the unique capacity of our academic community to take advantage of opportunities to link research and education with a wide range of areas.

I am also referring to the adaptation of the training offer to the times of growing uncertainty in which we live. This is particularly true for the debate that has been underway for many years, but which has been constantly postponed, about the need to expand the scope of initial training and facilitate the specialisation of post-graduate training.

I am also referring to the opportunity, that we all look forward to, for higher education institutions to establish themselves as collaborative laboratories that create value and harness qualified employment through the creation of new ways of cooperating with the private sector and with companies, in particular. This would be facilitated by close cooperation between universities and the productive, social and cultural sectors.

In this context, the development and promotion of inclusive research and innovation agendas and programmes, duly harmonised between universities, polytechnics and the productive sector, would constitute a real @Commitment to knowledge and science@ and promote scientific employment.

The agendas should result from the joint efforts of researchers from the public and private sectors, combining specialisation priorities with technologies and cross-sectional scientific knowledge while defining benchmarks for the allocation of funding for public science and innovation policies. The aim is to mobilise the productive, social and cultural sectors in a way that facilitates and expands the population’s qualifications nationwide, stimulating qualified employment and converging with European standards of public and private investment in R&D.

It is important to capacitate intermediate institutions of knowledge transfer, including technology and engineering centres, and other types of collaborative laboratories, to encourage the cooperation between scientific and higher education institutions and the economic fabric, thus facilitating the selective creation of qualified employment centres, which create economic value and harness industrial production capacity.

The example of the University of Porto, in this respect, should be clearly recognised at a national and international level, for the undeniable impact of its many scientific institutions and associated laboratories. The experiences of INESC TEC, INEGI and I3S, in particular, as well as the collaborada UPTEC, er POrtugal e do desenvovliemnto e do I3S, enter ra o desenvoliemnto cientificotion of the Fraunhofer – Portugal Association and the development of UPTEC, are examples that should be promoted, supported and expanded nationwide.

Fourthly, there is the constant internationalisation challenge, including the internationalisation of teaching staff. The gradual evolution over the past decade from international collaboration based on personal connections to institutional collaboration represents both a challenge and a practice that must be continued in Portugal. Granting double degrees and diplomas, creating joint laboratories and collaborative agendas with big European and International institutions is a challenge that will persist over the coming decades and can only be surpassed by attracting and retaining international teachers and researchers and by creating institutional agreements of international scope.

The analysis of the experience of Portugal and the University of Porto with big international partnerships[6] in the areas of higher education, science and technology shows that these partnerships can act as drivers of change. However, they require the integration and establishment of activities that are fundamentally different from the traditional role of higher education institutions, frequently including capacity building and several forms of social and economic appropriation of knowledge. Careful analysis also shows that the success of these partnerships requires an understanding of the nature of international cooperation that goes beyond the exportation/importation of “academic services” between involved institutions. Furthermore, they cross the borders of “national innovation systems” and bring new challenges to the integrity of higher education institutions, which must be maintained and promoted.

Moreover, nowadays, international partnerships are fundamental for promoting scientific employment and attracting and maintaining internationally-renowned researchers, which is clearly one of the most critical challenges for higher education institutions in Portugal. Facing this challenge requires institutional strategies that favour merit and a continuous and systematic renewal of teaching research staff at an international level.

Fifthly, the continuous and systematic renewal and modernisation of scientific and higher education facilities represent a challenge in the current public financing scenario, even considering the potential use of Community funds. Thus, this requires a new perspective on these facilities, given their unique potential to revitalise urban areas, cities and the whole country, as well as energise training and research activities in an “open science” environment.

A comparative analysis at the international level requires understanding the development potential of the “learning spaces”[7] around higher education campuses, and must be based on the scientific and academic facilities and their key part in the development of Portugal and in the promotion of the territory, in general. It also requires understanding the potential of the “learning spaces” in urban and rural contexts, especially in terms of the needs and challenges facing universities and polytechnics, in order to stimulate and strengthen their relationship with society and economy through open spaces of collaborative learning that foster knowledge and innovation. Paradoxically, “space” is more important than ever, and this analysis must account for the spatial dimension of knowledge to create and strengthen new forms of “knowledge urbanism” across the country. The role that the University of Porto has played in the revitalisation of the city of Porto should become an international reference.

In fact, an international comparison shows that higher education campuses are evolving from “places of study” to “places of learning and interacting with knowledge”, which are increasingly becoming relevant and essential “parts” of their cities and territories  [8]. In addition, decision-making regarding higher education campuses is becoming a more complex process for all stakeholders, bringing added challenges to the governance of higher education institutions.

In today’s broader and more systemic context, higher education campuses have new opportunities, but they also face new threats. Facilities are continuously ageing, both technically and operatively, and they require continuous investment, however, many new developments add uncertainty in the demand for these spaces, which is why a flexible management system is becoming a growing necessity. These facilities require, therefore, new financing mechanisms, management systems and continuous maintenance, stimulating the opening of campuses to citizens and several social and economic actors, ensuring their integration in the territory and in society, while at the same time efficiently upgrading the academic and scientific facilities.

Finally, there is the challenge of developing a scientific and collaborative internal culture for the institutional development of higher education and, naturally, of the University of Porto. I am referring to continuous efforts to promote a scientific culture within the academic community by avoiding management and assessment protocols based merely on simple indicators and “spreadsheets”, and by overcoming the individualism and irrationality of the many activities that currently instigate scientific and academic individualism on a global scale.

Currently, and for the foreseeable future, we expect higher education institutions and their staff to create collaborative groups that facilitate the co-creation of knowledge, foster creativity and stimulate the production of new knowledge and its dissemination.

There is also the need to reduce bureaucracy in school, academic and scientific environments in Portugal and worldwide, including countering the irresponsible use of metrics for assessment purposes. This effort should play a central part in safeguarding the scientific culture in our education and research institutions, at all levels. The successive international declarations published and signed by big scientific institutions in the past few years, including the San Francisco Declaration in 2012 and the Leiden Manifesto in 2015, are clear about the need to avoid indicators such as impact factors, among others, in recruitment procedures and in the context of scientific and academic career advancement. Portuguese institutions should focus on this goal in a way that clearly acknowledges students’ involvement in the learning process.

Addressing these challenges requires firm political convictions.

Allow me to inform the University of Porto’s debate, and in a broader sense, the debate of all higher education institutions, our intention to make our commitment to the future known.

In this context, our analysis of the six challenges shows that, in order to build scientific capacities in our institutions, namely through the qualification of our teaching and research staff, we need to take advantage of opportunities. In this respect, there are two critical aspects, which are also relevant for the University of Porto, particularly within the framework of its foundational regime:

  1. The mobilisation of all higher education instructors to adopt effective practices of “research-based teaching” and an efficient articulation between learning and research activities. Only about half of current higher education instructors at public Portuguese institutions are registered in R&D accredited by FCT, and while there is a natural variation between universities and polytechnics (the latter still have a considerable growth potential), the University of Porto shows values of 56% of people and 65% of full-time equivalents (FTE); with an average coverage of 75% and a maximum value of around 90% in some organic units;
  2. The stimulation of scientific employment and the renewal and reinforcement of the teaching and research staff of our institutions is one of our priorities for the years This process was initially facilitated by the State Budget Bill for 2016, which allowed higher education institutions to hire teachers and researchers, reinforcing and renewing their staff. However, the current teaching staff structure in higher education institutions illustrates the need for reinforcement, which will only be possible if institutions take responsibility for opening tenured positions and for renewing their staff. For example, in 2014/15, approximately 43% of the teaching staff at the University of Porto were associate professors and professors, while the national average was approximately 33% (per REBIDES, DGEEC). Both were well below the 50-70% defined in the existing legal framework.

Regarding actions to be taken by the University of Porto within the higher education context in Portugal, I would like to mention the urgent need to continue to actively participate in the further broadening of the social base of higher education, as well as adopting active and modern education/learning practices, promoting scientific employment and dignifying employment contracts for research and teaching professionals. These actions must be considered in conjunction with the challenges facing the development of new collaborative processes between the public and private sectors, the effective autonomy of scientific and higher education institutions and their joint accountability for academic, scientific, social, cultural and economic development[9].

As José Mariano Gago said in the celebration of the 100th Anniversary of the University of Porto, in 2011, this “University was created at a pivotal moment of political and social upheaval in Portugal, and it has since made a difficult ascension to the place it occupies today. […]”. The new challenges, threats and opportunities exist – and they do not wait. We must reflect upon them and act to overcome the challenges.

Allow me, also, to afford due recognition to the unparalleled role of the University of Porto in adopting its foundational regime and implementing principles of effective autonomy within higher education during the first five years of the regime’s implementation. Yet I also appeal to the University of Porto and its government and management bodies to consider consolidating the foundational regime considering the two critical aspects mentioned above, above all in a way that stimulates scientific employment and the reinforcement and renewal of the University’s teaching staff.

I also appeal to the government and management bodies of the University to consolidate a strategy that ensures the advancement of the University of Porto as a major research University in the European space. This can be achieved by adopting clear strategies to broaden research activities, operative education/learning practices and systematic practices of proximity among students, researchers, teachers and society at large. This requires strengthening institutional and contractual relations between the several organic units to better articulate education and research and to ensure the necessary collaborative practices to reinforce links with the productive, social and cultural sectors in Portugal and around the world.

In this sense, the national and international relevance of the incomparable (in Portugal) articulation and consolidation efforts between research and education organic units of the University of Porto, as well as many engineering and technology areas, must be acknowledged and should be extended to all knowledge areas, including biomedicine and clinical teaching and research. This requires new institutional and contractual relations with hospitals and health professionals, with a potential extension to other areas of knowledge, from social and economic sciences to humanities and exact sciences.

The position the University of Porto occupies both globally and within Portugal demands getting the most out of the opportunities for academic activities afforded by its foundational regime, dignifying and attracting more qualified human resources and reinforcing the links between all areas of knowledge and society, economy and culture.

In this context, and from a policy perspective, this past August we completed two distinct processes that can only become effective with the collaboration of higher education institutions, where the University of Porto naturally plays a major role:

  • Firstly, after negotiations with respective trade unions, we have established a new legal regime and programme to encourage scientific employment, promoting the responsible hiring of post-doctoral researchers in Portugal and to creating conditions to attract qualified human resources. This regime seeks to dignify academic and scientific employment within Portuguese society, facilitate access to and the development of scientific and academic careers and improve the precarious nature of qualified jobs. It has become critical to create institutional and financial conditions to hire researchers with PhDs and to set the necessary conditions to dignify scientific employment, in line with the assessment of all R&D units and laboratories that will be launched and established in 2017.
  • Secondly, we have created contractual conditions with higher education institutions to ensure necessary funding stability throughout the legislative period. We signed a formal agreement with universities and polytechnics to concede real value and dignity to higher education in Portugal.

To that end, we must promote further training and scientific capacity within the context of their natural articulation with the areas of education, culture and economy.

Believing in the University of Porto is believing in a culture of dialogue linked with critical assessment routines, committed to real convergence with the Europe of Knowledge.

[1] M. Heitor (2015), “Science Policy for and increasingly diverging Europe”, Journal of Research Policy and Evaluation, 2.

[2] CE (2016). 2016 Report on Portugal, with in-depth evaluation about prevention and the correction of macroeconomic imbalances. SWD (2016) 90 final: pp. 9, 2nd paragraph, http://ec.europa.eu/europe2020/pdf/csr2016/cr2016_portugal_pt.pdf [accessed on April 2016].

[3] João M. Santos, Hugo Horta, Manuel Heitor (2016), “Too many PhDs? An invalid argument for countries developing their scientific and academic systems: the case of Portugal, Technological Forecasting and Social Change.

[4] M Heitor, H. Horta and J. Mendonça (2014), “Developing human capital and research capacity: science policies promoting brain gain”, Technological Forecasting and Social Change, 82, pp. 6-22.

[5] S. Hasanefendic, M. Heitor and H. Horta (2016), “Training students for new jobs: the role of technical and vocational higher education and implications for science policy in Portugal”, Technological Forecasting and Social Change.

[6] M. Heitor (2015), “How far university global partnerships may facilitate a new era of international affairs and foster political and economic relations?”, Technological Forecasting and Social Change, 95, pp. 276-293.

[7] See, for example, http://www.ncef.org/content/learning-landscapes-higher-education-final-report

[8] See, for example, www.corporationsandcities.org ; Heijer (2008), “Managing the University campus in an urban perspective: theory, challenges and lessons from the Dutch experience”

[9] M. Heitor and H. Horta (2016), “Reforming higher education in times of uncertainty: are illities important?”, Technological Forecasting and Social Change.